domingo, 12 de agosto de 2012

Ballet

Fui no tal aniversário, dancei como uma louca, mesmo, sempre faço isso, na verdade acho que só saio por isso.
As pessoas não costumam dançar de maneira muito louca não, são mais contidas na minha opnião, apenas alguns sobressaem em alguns momentos, é deles a noite. Quando danço, a noite é só minha, não tenho olhos e nem boca, tenho só ouvidos e sensações.
Minha história com a dança é muito antiga, tenho a lembrança de estar na sala, sentada no chão assistindo um filme que falava de ballet, devia ter uns seis anos, fiquei chocada, não conseguia olhar para mais nada. Um pouco antes, aos três anos, estudava numa escola infantil onde haviam aulas de ballet, minha mãe não tinha condição de pagar as aulas na época, eu ficava parada na porta vendo as meninas de uniforme cor-de-rosa, ouvindo o piano e minha fascinação era tanta que a professora permitiu que eu fizesse aulas de qualquer maneira, e lá ficava eu de meias e shorts, em meio as meninas de sapatilhas.
Continuei a estudar conforme ía crescendo, era uma paixão, meus pais se desdobraram para pagar as aulas.
Tinha a melhor "ponta" da escola, subia na sapatilha de ponta com o pé totalmente "quebrado" como uma profissional, matava as outras alunas de inveja, e minha professora de raiva. Mesmo sendo uma bailarina excelente (para os padrões da escola local), era extremamente indisciplinada e encrenqueira, a professora me detestava, mas sempre me colocava em posição de destaque nas apresentações, eu era um sucesso no palco.
Tentei entrar na escola de bailado do Teatro Municipal, mas não consegui que a professora rancorosa me desse as aulas preparatórias, e assim desisti do teste. Paguei com um sonho, a desobediência e arrogância que tive em sua escola, e assim fecharam-se as portas do ballet para mim. Depois disso não fiz mais aulas, mas nunca abandonei a dança. Mantenho minhas sapatilhas em casa e uso com certa frequência, me falta treino e técnica, mas ainda sobra emoção, entrega e beleza, eu sei disso, mesmo que hoje dance sem platéia alguma.
Alguns amigos não fazem idéia desta minha paixão, deste verdadeiro dom pela dança, acham que sou tão somente uma maluca qualquer que de alguma forma vai pra pista e dança bem. As vezes acho que este meu apego pela noite se dá apenas porque é o momento onde posso dançar, por pra fora essa coisa forte que começa nos pés e não termina enquanto a música não acaba.
Quando morei na Espanha, mandei fazer um par de sapatilhas de ponta profissionais pretas, são lindas, e as vezes finjo que estou no teatro diante de uma platéia que como eu se emociona com o ballet, só meus filhos são testemunhas disso, eles até curtem, mas sabem que quando a mãe começa a dançar com as sapatilhas pretas, não adianta mais chamar...
Entre os sonhos guardados com a aprovação no concurso que prestarei, está o sonho de voltar a fazer aulas, desta vez junto com a minha filha (que detesta ballet), mas será obrigada a fazê-lo, ao menos por algum tempinho, só o suficiente para ganhar força, elegância, postura e flexibilidade característicos desta arte, depois ela pode ir embora, já eu desta vez pretendo ser obediente, e nunca mais sair da escola.




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