terça-feira, 10 de junho de 2014

Piscando

    Sai espevitada, a periquita piscando, cabelo molhado, maquiagem suave e mente vagante, mas não errante. Passa por todos, olha alguns, recebe olhadas e reconhecimento. Foge do reconhecimento do estranho na rua, sabe ficar invisível, mas dá trabalho demais, muita concentração que agora não tem.

   A cantada que mais gosta é aquela que não é dita, e como está piscando, recebe algumas delas. Eles sentem, acabou o sangue, chegou o cio. A calça jeans apertada, a xana um pouco molhada, um cheirinho doce exalando apenas para ávidos amantes da raça, eles sentem sem nem saber o quê. Ela gosta por isso mesmo, sabe que eles não sabem.

    Chega ao trabalho, vai ao banheiro antes de começar, passa a mão com carinho, sente o viscoso nos dedos, prazer de ser fêmea. Chupa o dedo e vai.
    No corredor é sensação, pisca pra um ou outro, fala um oi, dá um beijo aqui e ali e senta. Já sentada sente os pescoços se virando pra olhar, pra conferir, adora e molha.

    Ama os homens, curte as mulheres, e acha todo mundo lindo, principalmente quando está afim.
    Fica facinha, aquela coisinha assim assim.

    Segura a peteca, recolhe a gaiola e fecha a bíblia! Tá todo mundo vendo moça!
    Você é daquelas que não usam calcinha embaixo da saia longa, só pra ficar sentindo tesão o tempo todo, sentada de pernas abertas, o tecido da saia te tocando sem ninguém perceber.
    Eita moça, não faz isso não, o povo não sabe, mas percebe. Eita moça sem noção!